Acreditas em Magia?
O esférico acabou de te tocar no pé direito. O tempo parou. Nada te atravessa a mente, mas sentes-te finalmente em casa. É quase uma sensação de conforto, de calma. Vem-te à memória aquela vez em que jogavas à bola com o teu pai no pátio, ou daquelas partidas intensíssimas que se jogavam nos intervalos da escola, imaginando que um dia ias ser jogador de futebol, como aqueles com quem tu jogavas na PlayStation ou vias na televisão. Um dia, ias ser tu quem cantava o hino da seleção para onze milhões de portugueses. Um dia, ias ser tu quem erguia a taça da Liga dos Campeões.
Regressas então ao jogo. Levantas a cabeça, e observas um campo repleto de adversários. Ao longe, uma luz ao fundo do túnel, o objetivo – a baliza.
E arrancas. Leve como o vento, rápido como um falcão. Parece que talvez não se esteja a assistir a um jogo de futebol, mas a uma companhia de bailado, tal a graciosidade de cada movimento. E passas por um, por dois, entregas a bola ao teu companheiro, que segue sempre a teu lado - como se de uma batalha se tratasse - ele devolve-te, tu voltas a oferecer-lhe, lembrando os velhos ensinamentos do mestre Cruyff, e por fim a bola acaba contigo.
Agora és só tu. Tens tempo. Esse momento que tantas vezes nos falta na vida, está agora na tua mão. Sabes, no entanto, que esse tempo não é infinito, e já que falamos daquele mágico treinador do Barcelona, voltemos a Espanha, pois parece que atrás de ti se largaram os touros, enfurecidos, com apenas uma meta em mente – parar-te a todo o custo.
É agora ou nunca. Concentras toda a tua força e foco. Remataste. Lá vai ela. Num voo lindo, brilhante, mais bonita que qualquer ave neste mundo. E durante aqueles segundos, não se ouve nada. Ninguém fala, ninguém respira, até os pássaros deixam de chilrear. O tempo volta novamente a parar.
E, do nada, uma explosão. Os adeptos sorriem, gritam, cantam. É golo. Para mim esta sensação será sempre inesquecível, mas também quase indescritível. Se alguém me perguntar se acredito em magia, só diria que sim porque pude presenciar momentos como este. O coração fica cheio, e sentir aquele abraço, não só dos teus companheiros, mas também dos adeptos, que te dão um amor diferente, aquele amor que tu um dia entregaste àqueles craques que tanto idolatravas, é algo que qualquer atleta deseja sempre poder voltar a experienciar só mais uma vez.
Sim, qualquer atleta, porque tudo o que escrevi aqui, quer fosse a jogar com os pés ou com mãos, com bola ou sem bola, no campo ou no ginásio, na água, com um taco ou com uma raquete, é comum a todos os praticantes. Todos queremos sentir aquela magia.


por José Guilherme Silva
Associação de Estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto
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